Level of Development – O que é LOD? Para você que é novo no mundo BIM estou falando sobre os Níveis de Desenvolvimento de um projeto, então vamos entender mais sobre esta classificação!
Se consultarmos a NBR 6492 – Representação de projetos em arquitetura (1994), em um projeto temos as etapas de: programa de necessidades, estudo preliminar, anteprojeto, projeto executivo e projeto como construído. Em cada uma destas etapas temos um nível de detalhamento e um equivalente nível de informação.
Em um processo de trabalho BIM não é diferente, mensurar a quantidade de informação que um empreendimento precisa no decorrer do seu desenvolvimento é um fator crucial para o seu sucesso e organizar todas essa informação/troca de informação se mostra um grande problema.
Tendo em vista esta necessidade, várias especificações internacionais foram desenvolvidas para organizar a informação de um projeto conforme cada uma de suas etapas, cunhando então o termo LOD – Level of Development (Nível de Desenvolvimento).
O propósito do LOD é identificar a quantidade, confiabilidade e clareza de informações em um determinado momento do projeto, informações estas que serão utilizadas para o planejamento, orçamento, execução e manutenção da construção.
Vale lembrar que as informações presentes em um projeto são uma combinação de informações gráficas e não gráficas.
Com assim gráficas e não gráficas?
Imagine uma cortina de vidro, com diversas medidas e detalhes de encaixes, fixações e montagem (informações gráficas) e seus dados sobre a resistência mecânica da estrutura, controle térmico dos vidros, custos, dados dos fornecedores, etc. (informações não gráficas).
Não há uma definição universal destes níveis, que podem inclusive terem níveis intermediários, variando de acordo com o país de origem. Vamos conhecer algumas delas para nos situarmos melhor.
LOD – LEVEL OF DEVELOPMENT (NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO)
ESTADOS UNIDOS
O AIA (American Institute of Architects) estabeleceu um total de 5 níveis de LOD (Level of Development).
Iniciando no LOD100 e finalizando no LOD500, que abrange desde a volumetria até a etapa como construído (As-build), sendo:
- LOD100 – Representação volumétrica mostrando a existência do componente/construção e outras informações preliminares sem se preocupar com a forma, tamanho ou localização precisa. As informações aqui são consideradas aproximadas. Apenas informações gráficas.
- LOD200 – Representação gráfica genérica, com quantidades, tamanho, forma, localização e orientação aproximadas. Eles podem ser reconhecidos como os componentes que eles representam, ou podem ser volumes para reserva de espaço. Informações gráficas e não gráficas aproximadas.
- LOD300 – Representação gráfica precisa e coordenada, adequadas para levantamento de custos. Quantidade, tamanho, forma e localização precisa. A coordenação e compatibilização entre disciplinas é realizada nesta etapa.
- LOD400 – Representado com detalhes e precisão suficientes para a fabricação, montagem, instalação, orçamento e planejamento do modelo. Contém informações gráficas e não gráficas.
- LOD500 – Representado como foi construído. O modelo e os dados associados são adequados para a manutenção e operações da instalação.
Apesar de muitos países utilizarem o padrão de LOD proposto pelo AIA, alguns países desenvolveram seus próprios “Níveis de Desenvolvimento”, que vou tentar deixar da forma o mais sucinto possível para não deixar o texto muito cansativo.
NOVA ZELÂNDIA
A Nova Zelândia segue a especificação LOD do AIA (LOD100-LOD500), porém define que o LOD como conceito é a soma de diferentes aspectos que definem as informações e a geometria de cada elemento, resultando na soma de quatro elementos:
- LOd – Level of Detail (Nível de detalhe) – Define o nível de precisão geométrica em relação ao objeto real. Por exemplo, um objeto muito detalhado que é colocado em um modelo e “parece” completo, porém de ter sido reaproveitado de outro projeto e suas informações não atendem as necessidades desse projeto, induzindo a um eventual erro.
- LOa – Level of Accuracy (Nível de precisão) – Define o nível de precisão em relação as técnicas de construção que serão adotadas. A questão das tolerâncias precisa ser considerada. Uma parede de gesso acartonado nunca será construída com o mesmo nível de tolerância que uma peça de equipamento de laboratório montada em fábrica.
- LOi – Level of Information (Nível de informação) – Também identificado como Nível de dados. Aqui é necessário definir quais informações devem ser fornecidas com cada elemento. Essas informações também podem estar relacionadas a informações de custos no início do projeto ou informações de engenharia para análise posterior.
- LOc – Level of Coordination (Nível de coordenação) – Não é definido como parte do elemento LOD, mas se refere ao nível de coordenação com outros elementos do modelo. Uma porta altamente detalhada poderia ser colocada em uma “parede arquitetônica”; a porta pode conter a informação correta para um LOD específico, mas pode não ser coordenada com a abertura estrutural na “parede estrutural”.
HOLANDA
No processo holandês o princípio é do detalhamento em evolução. As informações são adicionadas ao modelo em um nível cada vez mais alto e na transição de uma fase (pré definida) para a próxima, o modelo é bloqueado, com um status correspondente ao nível de informação atual. Este nível é o ponto de partida para a modelagem da próxima fase.
O modelo é dividido em sete níveis (0-6) que podemos entender como:
- LOD0 – Definição Especificação de requisitos / Cronograma Funcional de Requisitos. Nesta fase, uma visão geral com os requisitos funcionais do cliente é elaborada.
- LOD1 – Teste de viabilidade. A partir da especificação da demanda (Nível 0), torna-se possível elaborar cenários e variantes de design do projeto.
- LOD2 – Avaliação do plano de zoneamento, avaliação de critérios de bem-estar. Aqui desenvolve-se o estuo de viabilidade em vistas de fachada e plantas, sendo que seus respectivos espaços são elaborados com objetos como paredes, pisos portas e janelas.
- LOD3 – Licença ambiental. Nesta fase, o modelo é adequado para ser dividido em modelos de disciplina e / ou modelos de múltiplos aspectos (dentro da disciplina). Ao mesmo tempo, acordos definitivos devem ser feitos com base neste modelo sobre a elaboração e cooperação com os parceiros do projeto, de modo que toda a expertise seja incluída no desenvolvimento do projeto.
- LOD4 – Preços para a implementação. Nesta fase, o modelo é desenvolvido para cada disciplina, para que os objetos e elementos possam ser comprados de fornecedores e subcontratados. O modelo BIM pode atuar como um contrato entre os vários parceiros.
- LOD5 – Planejamento e execução. Compra, preparação da obra e controle.
- LOD6 – Gestão e manutenção das instalações.
AUSTRÁLIA
Os conceitos desenvolvidos pela Holanda serviram como base e foram incorporados ao documento australiano CRC National BIM Guidelines, apresentados como Model development phases (Fases de desenvolvimento do modelo), propondo que o modelo se desenvolva ao longo do tempo com níveis crescentes de detalhes e complexidade.
Foi identificado que era necessário redefinir o tipo e o detalhe das informações necessárias à medida que os modelos se desenvolvem e quando esses dados provavelmente serão necessários. Como o desenvolvimento raramente é linear, as fases foram descritas como:
- FASE 0 – Briefing / Pré Design. Esclarecimento e formalização dos diferentes requisitos e restrições do projeto em fase de projeto e prazo de entrega proposto. Requisitos do cliente, requisitos legais e restrições do terreno. Nível de detalhe: modelo de massa 3D (grosseiro).
- FASE 1 – Design conceitual. Possíveis soluções de projeto, forma geral do prédio, estrutura e relacionamentos com o entorno, volumes da geometria externa do edifício em formato simples, interação entre volumes de modelagem e ambientes, capacidade de extrair áreas e volumes em nível geral para estimar, analisar estimativas de áreas brutas.
- FASE 2 – Design esquemático. Base para decisões sobre a seleção da solução conceitual – o modelo para refletir a estrutura funcional e física do edifício em um nível geral. Layout de salas e elementos de construção em geral. Pode ser usado para desenvolver estrutura básica para avaliação das propriedades físicas e funcionais gerais do edifício, todas as aberturas em paredes, pisos estruturais e telhados mostrados em detalhes gerais.
- FASE 3 – Design Desenvolvido. Serve como ferramenta para a coordenação das partes do projeto e tem informações suficientes para aprovação. Os elementos da construção recebem dados de atributos (por exemplo, porta com “classificação de incêndio” específica), resolução estrutural de conflitos e base para modelo básico 4D/5D. Planos de custo, fluxo de caixa, custo de ciclo de vida atualizados.
- FASE 4 – Documentos do contrato. Base para licitações, concursos, estimativas, propostas e planejamento de construção. Precisa ser capaz de extrair elementos detalhados, listas de pelas e notas descritivas de quantidades. Usado como base para o planejamento de construção. Coordenação final de todas as disciplinas com checagem de conflitos.
- FASE 5 – Construção. Base para o planejamento da construção, programação 4D, informações sobre empreiteiros, subcontratados e fornecedores de produtos. Dados de atributo específicos e novos dados adicionados (preço, fornecedor, garantias, etc.). Custo, sistemas de cotação, 5D e administração de contratos.
- FASE 6 – Gerenciamento de pós construção (As Built) / Instalações. Documentação pós construção (As Built), modelos com elementos de construção, componentes e propriedades atualizados. Detalhamento incluso nesta fase: elementos de construção, acabamentos, função, geometria / localização, propriedades dos elementos de construção, construção, dados do produto, manuais de operação e manutenção.
BRASIL
No Brasil temos a especificação do estado de Santa Catarina (SC-Caderno BIM), que segue como referência o BIM Fórum (que seguiu o AIA), sendo o único que vincula o LOD às etapas do projeto (estudo de viabilidade, estudo preliminar, anteprojeto, legal, básico, executivo).
A estrutura do SC-Caderno BIM consiste em Níveis de desenvolvimento (ND), que vão do ND-100 ao ND-400, que corresponde ao projeto concluído e detalhado para a geração da documentação à construção, e por último o ND-500, que corresponde ao como construído (AS Build). Temos então:
- ND-0 – Concepção do produto. Estabelece o programa de necessidades e verificar a viabilidade do produto proposto. Nesse momento, apenas um esboço é elaborado a fim de contribuir com a análise de viabilidade.
- ND-100 – Definição do produto – Estudo Preliminar (EP). Inclui elementos do projeto, como estudos de massa (3D), que podem ser representados graficamente como um símbolo ou qualquer representação genérica. Devem ser suficientes para os estudos preliminares e conceituais, e orientativos para o planejamento do projeto.
- ND-200 – Definição do produto – Anteprojeto (AP). Os elementos conceituais são convertidos em elementos genéricos com a definição de suas dimensões básicas, permitindo resolver o partido arquitetônico e demais elementos do empreendimento, definindo e consolidando as informações necessárias a fim de verificar sua viabilidade técnica e econômica. Possibilita a elaboração dos projetos legais.
- ND-300 – Definição do produto – Projeto Legal (PL). Os elementos do modelo são graficamente representados como um sistema específico, objeto ou conjunto em termos de quantidade, tamanho, forma, localização e orientação.
- ND-350 – Identificação e solução de interfaces – Projeto Básico (PB). Os elementos genéricos são transformados em elementos finais, com visão da construção e da identificação das interfaces entre as especialidades. Essa etapa permite consolidar claramente todos ambientes, suas articulações e demais elementos do empreendimento, com as definições necessárias para o intercâmbio entre todos envolvidos no processo. A partir da negociação de soluções de interferências entre sistemas, o projeto resultante deve ter todas as suas interfaces resolvidas, possibilitando a avaliação dos custos, métodos construtivos e prazos de execução.
- ND-400 – Projeto de detalhamento de especialidades – Projeto Executivo (PE). Esta etapa contempla o desenvolvimento final e o detalhamento de todos os elementos do empreendimento, de modo a gerar um conjunto de informações suficientes para a perfeita caracterização das obras/serviços a serem executadas, bem como a avaliação dos custos, métodos construtivos e prazos de execução. São elaborados todos os elementos do empreendimento e incorporados os detalhes necessários de produção, dependendo do sistema construtivo. O resultado deve ser um conjunto de informações técnicas claras e objetivas sobre todos os elementos, sistemas e componentes do empreendimento.
- ND-500 – Pós-entrega da obra – Obra concluída. Nesta etapa, tem-se o fim da gestão das fases de obra, e o fim da gestão das fases
de projeto da edificação com a geração do projeto de “As Built” e manuais.
CONCLUSÃO
Em resumo quando falamos de LOD trata-se de uma classificação que organiza as etapas do desenvolvimento de um projeto em BIM. De acordo com a classificação é possível identificar o nível de informações que é preciso ter em cada etapa, lembrando que informação demais também atrapalha.
Sendo assim o objetivo é obter as informações necessárias (nem demais, nem de menos) em cada etapa e determinar o nível de confiabilidade desses dados.
Percebam aqui que apesar da classificação da AIA (estados Unidos) ser muito popular, não necessariamente é ela que vale para todos os projetos. Um aspecto interessante aqui é que cada país buscou estabelecer níveis de acordo com as necessidades do empreendimento/mercado/cenário. O que mostra que o LOD não é uma classificação engessada.
Outro ponto a ser observado. O nível LOD de um projeto pode ser variado, onde o estrutural está em LOD400, hidráulico em LOD200 e elétrico em LOD300. Claro que isso no decorrer do projeto e da necessidade de informações de cada uma das disciplinas.
Além do que todas estas disciplinas devem ser compatibilizadas, onde observamos que em alguns países existe uma etapa de LOD dedicada exclusivamente a este processo de compatibilização de projeto/informações, buscando uma perfeita harmonia de todos os dados do projeto.
Desta forma TODOS os envolvidos no projeto devem se conversar e trocar dados, gerando assim a interoperabilidade, que nada mais é do que um dos alicerces do processo BIM.
Nossa, mas como eu aplico isso?
A primeira coisa é escolher uma classificação que mais se aproxime com as necessidades dos seus projetos, já que você pode ter acesso as classificações e entender como obter as informações do seu modelo. Você pode criar uma versão simplificada no início, contanto que contenha as informações necessárias para o projeto em que você está trabalhando.
Possivelmente você terá que fazer adaptações ou mesmo criar outros níveis de LOD (intermediários talvez), mas não se esqueça de definir o que cada nível significa e que informações estão associadas ao respectivo nível.
E então? Está pronto para implementar os Níveis de Desenvolvimento em seus projeto? Já usa? Deixe seu comentário e enriqueça a discussão!
RFERÊNCIAS
Para quem quiser aprender mais e saber a fonte do material que serviu de base para esta publicação, seguem algumas referências. Fique à vontade para entrar em contato caso precise de alguma informação adicional.
Marzia Bolpagni – THE MANY FACES OF ‘LOD’
Digital Construction – 3D WORKING METHOD 2006
BIMFORUM – LOD Level of Development Specification Part I.
AIA – American Instituite of Architects
NOVA ZELÂNDIA – New Zeland Bim Handbook – Appendix C – Level of Development Definitions.
HOLANDA – National BIM Handbook – Informatie Niveaus.
AUSTRÁLIA – NATSPEC National BIM Guide.
BRASIL – Caderno de Apresentação de Projetos em BIM – Governo de Santa Catarina.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: BUILDING INFORMATION MODELING NO ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO: Percepção e disseminação do BIM nas Instituições de Ensino Superior do Estado de São Paulo.
Autor: Luis André dos Santos
Link: BUILDING INFORMATION MODELING NO ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO
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Uau. Muito bom. Quando você coloca esta visão geral e compara com outros países….eu senti falta (de modo geral e não seja deficiência do seu texto – aliás, pela qualidade é que me levou a ter esta percepção destes andamento do projeto) de separar obra nova de reforma. Em reforma…o nível de imprevistos é muito grande. Isso leva a um contato ainda maior de obra/escritório. Incluindo mudanças de detalhamento em função de adequações. No Brasil (e em outros países) fica a impressão que o projeto e obra são momentos radicalmente separados. Mas na realidade, dependo da complexidade da obra…as coisas não são bem assim. Agora…uma dúvida que ficou: eu poderia começar com volume e cada vez mais ir mergulhando no nível de detalhamento. Mas seria interessante template diferentes para cada momento? Até para não pesar a máquina? Valeu.
Olá Tarcísio,
Realmente quando pensamos em reforma a aplicação do BIM tem um aspecto completamente diferente. De certa forma é como se você decidisse implementar o BIM no meio de um projeto em andamento. Um projeto já pensado em BIM tem um leque de variáveis imenso, mas só de pensar em uma reforma estas variáveis nem se comparam.
Um abraço!